Fernanda Spinardi é líder de gestão de Soluções para Clientes na Amazon Web Services (AWS). Graças à sua experiência e trabalho, ela tem estado no epicentro das discussões sobre transformação de trabalho com inteligência artificial generativa – ou genAI, em sua sigla.

“Em 2009, ao lado de 14 amigas, fundei o Jurídico de Saias. Começou pequeno, mas virou um monstro, contando com mais de 3,000 participantes. O grupo é formado por mulheres advogadas atuantes em empresas privadas ou públicas, assim como em associações e entidades sem fins lucrativos em todo o Brasil, cujo objetivo é o desenvolvimento profissional das mulheres nas carreiras do direito, bem como fomentar a discussão sobre as questões de gênero e implementação de ferramentas de aceleração de carreira.

São várias as frentes de ação do grupo. Publicamos artigos, fazemos campanha por profissionais pretas nos tribunais superiores, inclusive no STF, lutamos por mais mulheres nos diversos espaços de poder, desenvolvemos programas de mentoria. Esses são os fatos: temos mais advogadas se formando todos os anos, nossas notas são melhores, fazemos pós graduação. Mas aí você entra nos escritórios, os sócios são, em sua grande maioria, homens brancos; você vai para as empresas, muitos dos diretores são homens brancos. O que acontece no meio desse caminho? O que nos contam é que as mulheres diminuem o ritmo de suas carreiras por conta da maternidade, mas os dados disponíveis não sustentam esse argumento. O que acontece é que a profissional percebe o afunilamento, a falta de oportunidade de crescimento, sem necessariamente estar relacionado com a competência. Então, o Jurídico de Saias apareceu nesse vácuo e hoje é um grupo que acabou inspirando outros.

Além de nossa luta externa, internamente também trabalhamos duro. Por exemplo, a gente se percebeu também como um grupo feminista branco, muito diferente de uma luta feminista mais ampla. Foram mulheres negras que participavam do grupo que me deram um toque e falaram, ‘olha, é muito legal, mas essa pauta não necessariamente cobre toda essa pluralidade do mundo jurídico’. E aí, inclusive, a gente encampou uma série de outras ações para apoiar as mulheres negras que participam do Jurídico de Saias.

Mas toda essa luta, todo esse meu engajamento (e de outras tantas colegas), vai muito além do Jurídico de Saias e, no mais, excede o mundo jurídico. Engloba todos os tipos de mulheres e profissões. E é uma luta constante pela pluralidade e pela diversidade, uma luta na qual a gente não pode descansar em nenhum momento porque sempre existe o risco de regredirmos, de que nos tirem os direitos tão duramente conquistados. Enfim, a luta é o tempo todo”.