O grande desafio das empresas no que se refere à tecnologia é gerenciar a complexidade das arquiteturas de soluções ao mesmo tempo que busca princípios simples para fazer a sua gestão. Com isso em mente, no keynote desta quinta-feira do AWS re:Invent 2024, o CTO da Amazon, dr. Werner Vogels, criou o termo “simplexity” que junta esses dois aspectos em uma só palavra para reforçar que é preciso achar o balanço entre as duas coisas.
“Uma coisa que as empresas precisam aceitar é que a tecnologia está em evolução constante. Então não há um fim: a arquitetura vai ter de estar sempre em transformação”, destacou Vogels. A partir dessa premissa, ele apresentou seis lições para ser “simplexity”:
- Faça da evolução um requisito: é preciso construir uma arquitetura que possa evoluir e revisitá-la constantemente;
- Quebrar a complexidade em pedaços: desagregar em blocos coesos;
- Alinhar a organização à arquitetura: montar pequenos times, desafiar o status quo e incentivar a proatividade;
- Organizar em células: dividir as soluções em pedaços menores reduz impacto de qualquer problema;
- Desenhar sistemas previsíveis: ter uma visão clara de onde se quer chegar reduz o impacto da incerteza;
- Automatizar a complexidade: tudo o que não precisa de uma avaliação complexa, pode ser automatizado.
“Isso tudo exige disciplina desde o dia 1 para acontecer”, conclui Vogels, reforçando que a AWS tem por objetivo trazer toda a complexidade da arquitetura para a sua infraestrutura, deixando a simplicidade para o cliente.
Propósito guirá a tecnologia nos próximos anos
Werner Vogels também divulgou nesta quinta a sua tradicional lista de cinco previsões tecnológicas para 2025. Elas apontam para as transformações sociais causadas pelos avanços que estamos vendo com inteligência artificial. “Nos próximos anos, usar a tecnologia para um impacto positivo não será apenas possível — isso vai redefinir a maneira como pensamos sobre o sucesso”, afirma.
Aqui estão as cinco tendências previstas por Vogels:
- A força de trabalho do amanhã é movida por propósito.
- Uma nova era de eficiência energética impulsiona a inovação.
- A tecnologia inclina a balança na descoberta da verdade.
- Dados abertos impulsionam a preparação descentralizada para desastres.
- Tecnologia de consumo movida por intenção ganha força.
Leia as previsões completas no blog de Vogels, "All Things Distributed", ou assista em vídeo.
Boticário usa IA generativa para melhorar acessibilidade do e-commerce
Um bom exemplo de como usar a tecnologia com um propósito é o projeto de inteligência artificial generativa implementado pelo Grupo Boticário para aumentar a acessibilidade de seu e-commerce: a geração automática de descrição para as imagens do site.
O problema: as imagens traziam como descrição apenas o nome do produto. Então, para um deficiente visual que usasse recursos de leitura de tela, a única informação que teria, seria essa.
A solução: utilizando um modelo do Amazon Bedrock, a empresa desenvolveu uma solução que faz uma descrição completa das imagens. Com isso, não só a acessibilidade do site melhorou como as buscas por produtos a partir das suas características ficaram muito mais precisas. Com três meses de produção, o sistema já descreveu 27 mil imagens.
Uso responsável: para ter certeza de que as descrições adequadas, elas passam por validação humana. Mas o Boticário não descarta no futuro usar ferramentas para fazer esse processo automaticamente.
“O uso de inteligência artificial deve agregar valor ao negócio. Acessibilidade é um princípio do Grupo Boticário”, destaca Sidarta Oliveira, diretor de Plataforma Cloud no Grupo Boticário.
Startups mostram novas possibilidades com IA
Pela primeira vez o AWS re:Invent teve em sua programação uma competição de pitch para startups. Seguindo mais ou menos o modelo do programa de sucesso na TV Shark Tank, o Unicorn Tank ofereceu um prêmio de US$ 100 mil ao vencedor.
Durante dez minutos, oito startups de várias partes do mundo que participam do programa AWS Global Generative AI Accelerator defenderam suas ideias inovadoras frente a cinco jurados. A América Latina foi representada pela Hero Guest, do México, que produz treinamentos personalizados com uso de inteligência artificial para o setor de hospitalidade (como hotéis e restaurantes).
A grande vencedora foi a AudioShake, uma startup de San Francisco que desenvolveu uma tecnologia que filtra o som e separa as diferentes fontes para que possam ser usadas em outras finalidades. Ter a voz limpa de uma pessoa pode ser uma fonte importante de dados para IA, por exemplo, ajudando na tomada de melhores decisões.
Outras startups da região tiveram a oportunidade de mostrar suas propostas de trabalho em sessões durante o evento. É o caso da brasileira Base39, que utiliza IA generativa para aprimorar a análise de crédito e permitir que instituições financeiras tomem decisões mais justas e inteligentes.
Como destacou Matt Garman, CEO da AWS, em seu keynote na terça-feira, as startups são importantes fontes de inovação em um momento de transformação acelerada como a que estamos passando. A AWS tem diversos programas que apoiam a criação e o desenvolvimento dessas empresas ao redor do mundo.